O ínicio

Em meados do século XIX, Minas Gerais, considerada um dos maiores centros econômicos do País, não só pelas suas ricas minas de ouro, fábricas de ferro e tecelagem como também pelas imensas fazendas produtoras de laticínios e café, era considerado o Estado mais populoso do país. Sua organização político-administrativa deixou herança na história.

Neste contexto, na pequena cidade de Bom Jardim, interior de Minas Gerais, nascia Serafim José do Bem. Filho de imigrantes, tornou-se proprietário de um posto de descanso para os bandeirantes que passavam pelas trilhas, Minas ? Rio durante a Era do Ciclo do Ouro.

Com a escassez do ouro e o surgimento das ferrovias, as trilhas tornaram-se obsoletas e o pequeno posto do jovem Serafim ficou sem hóspedes para abrigar e seus negócios começavam a ruir.

Em busca de oportunidades para cuidar dos oito filhos e da esposa, Serafim José do Bem partiu para o interior do país.

Em 1870 ele deixa Minas Gerais com destino à região de Casa Branca e São Simão, passando por Poços de Caldas.

Em São Simão, investe suas economias em três fazendas na região de Serrana, que perfaziam um total de 3.500 alqueires.

Finalmente em 1875 o colonizador, com uma tropa cavalos e burros traz seus pertences, escravos e sua família para construir um novo futuro.

À margem do Córrego Serrìnha, atual Fazenda, Santa Balbina, a casa da família do Bem é erguida, porém anos depois a família muda-se para onde é atualmente a esquina das ruas Nossa Senhora das Dores e Paraná.

Ali, a família passou a cultivar a terra plantando apenas cereais, como arroz, feijão, milho e algodão para subsistência, e mais tarde começou a plantar cana-de-açúcar.

No final do século XIX, a maleita estava presente em todo território do país e assombrou o lar de Serafim do Bem. Muito religiosos, ergueram uma imensa cruz de madeira, atrás da atual Igreja Matriz, para orar todas as tardes pedindo à Nossa Senhora das Dores que amparasse a família e afastasse aquela doença da família.

Em 24 de setembro de 1890, Serafim do Bem doa quatro alqueires à Vila, mais quatro no dia 12 de abril de 1893 e mais quatro no dia 14 de fevereiro de 1906, totalizando doze alqueires conforme escrituras do livro destinado ao ?Tombo do Curato de Serrinha?.

Essas doações foram, recebidas pelo Padre Joaquim Antônio Siqueira, que as aceitou Em 1897, o município de Cravinhos é criado e em 1912 a Vila Serrinha, passa a ser distrito da cidade.

A pequena Serrinha, distrito de Cravinhos estava abandonada, sem subsídios para reverter em benfeitorias para o pequeno povoado, já que todo imposto cobrado na produção agrícola era revertido para Cravinhos.

Ainda na década de 20, nascia a indústria açucareira Pedra e Martinópolis, mas a arrecadação dos impostos era revertida para Cravinhos e a Vila Serrinha continuava sem perspectivas de progresso.

Em 1930, o Brasil vive um dos mais duros capítulos da história. São Paulo rompe com Minas Gerais. Os mineiros lançam então a candidatura de Getúlio Vargas em oposição a Júlio Prestes. Após Júlio Prestes vencer as eleições como presidente da República os militares conspiram um golpe de estado e tomam o poder.

Em 1939 inicia a grande segunda guerra mundial e a Europa é devastada. Em 1945, termina a 2ª Guerra e também é o fim do Estado Novo no Brasil.

Inicia-se uma nova era, onde a economia volta a crescer no não só no país, mas no mundo. As indústrias de tecelagem contribuem para o desenvolvimento econômico de São Paulo, o algodão passam a ser cultivado.

O agricultor que cultiva a terra e vê sua colheita render frutos passa a questionar-se porque os impostos pagos ao distrito não podem ser desfrutados quando sua família precisa de um médico ou mesmo de uma qualidade de vida melhor. Esse questionamento passa a imperar na cabeça de todos moradores da então Serrana.

A Emancipação

Em 1945, Ângelo Cavalheiro assume o cargo de vereador em Cravinhos, representando na época, a pequena população de Serrana. A insatisfação do povo do vilarejo aumentava em relação ao fato de Serrana ser distrito de Cravinhos e não poder investir no desenvolvimento da melhoria da qualidade de vida de sua gente. A administração de Cravinhos, percebendo o movimento que se formava em Serrinha com o objetivo de emancipar-se, afastou Ângelo Cavalheiro do cargo. Daí, ele passou a intensificar o movimento em Serrinha para lutar pela emancipação. O movimento foi ganhando força e Ângelo Cavalheiro conquistava aliados como Vicente Paula Lima. Começou então um movimento de libertação por parte de Serrana. A luta começou e foi árdua pois a resistência de Cravinhos era grande.

Iniciou-se um processo político para emancipação.

Restava então apenas uma questão para que Serrana conquistasse sua emancipação. Era necessário que houvesse uma distância de 25 km entre Cravinhos e Serrana.

Primeiramente mediu-se a distância sem chegar a um consenso técnico, resultando em 23,5km. O processo emperrou.

Começou a batalha política e foi então que decidiu-se que deveria-se medir a distancia entre a parada de ônibus de Cravinhos até a parada de ônibus de Serrana, surpreendendo os 25km necessários.

Em 10 de abril de 1949 o governador de São Paulo, Armando Salles de Oliveira assina então o documento onde constava a emancipação de Serrana.

Em 1950, Serrana pela primeira vez vai às urnas depositar seu voto para aquele que seria o primeiro prefeito da recém libertada cidade.

Devido à luta e participação política, vence, com a maioria dos votos, Ângelo Cavalheiro.



Suas primeiras ações administrativas foram: arrumar as ruas da cidade, construir a ponte do Rio Pardo que antes era balsa, inaugurar o primeiro hospital da cidade, a Santa Casa de Misericórdia e a Igreja Matriz.

Ângelo Cavalheiro trouxe também a primeira ambulância e a primeira jardineira para transportar os alunos que estudavam em Ribeirão Preto. Em sua administração, trouxe o Ginásio Estadual de Serrana, hoje Escola Estadual Deputado José Costa, para Serrana.

Ângelo Cavalheiro assumiu a Prefeitura de 1950 à 1954, depois de 1959 à 1963. Faleceu em 30 de março de 1981.